Não há forma melhor de morrer do que vivendo.
Não há forma de eu me acostumar com a vontade que algumas pessoas têm de morrer durante o sono, sem dor, deitadas tranquilamente em suas camas. Acho uma morte patética, destituída da grandiosidade que a vida por si só já merece. Morrer é parte do viver, é consequência, resultado. E uma morte deve ser o reflexo de uma vida.
Quero que o meu corpo exploda em um milhão de pedacinhos no meio da avenida mais movimentada da cidade. Quero os detritos da minha morte espalhados, denunciando para o mundo inteiro a minha vida. A dor não importa. Essa dor será temporária, ela é a derradeira, depois dela nada mais há. O não-sentir será completamente tomado por uma enxurrada de glória.
Quero saber que estou morrendo. Sentir a foice do ceifeiro e saber onde ela arranha. Preciso ver enquanto houver olhos, ouvir até o fim dos tímpanos, tatear com cada centímetro quadrado de pele o local do fim de sua própria existência. Saberei o momento exato do último palpitar do músculo cardíaco, sentirei a última lufada de ar a sair dos pulmões e a última sinapse a cruzar essas ondas cerebrais. Quero sentir o último fio de consciência se esvair, e saber que aquele é inevitavelmente o fim.
Mas é o fim de algo memorável. Mesmo que depois não haja memória. Não importa. A morte só precisa ser reflexo da vida. Quero morrer em uma explosão de grandiosidade, quero deixar meus resquícios em manchas que incomodem os produtos de limpeza e as lembranças por muito tempo. Quero morrer em vida, vivendo-a, não após ela.
Porque não tenho medo de morrer, mas tenho um medo gigantesco de não viver.
Este texto é de responsabilidade do autor/da autora.
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