Nunca me permiti ficar em paz, só que as coisas se intensificaram com a quarentena. Há dois anos que não vivo exclusivamente do meu trabalho como gestora cultural, mas que vivo exclusivamente para ele. Todo dia além de administrar tudo, pagar as contas, garantir a limpeza, gerir equipe, organizar eventos, fazer matrículas, cobranças, divulgações, fazer contatos, cumprir prazos, criar agenda, preciso ter novas ideias. E isso piorou bastante no home office. Fico aqui o dia todo tentando ter a ideia brilhante que vai resolver tudo, porém enquanto ela não chega (porque não vai chegar) preciso ter pequenas ideias para manter tudo vivo e caminhando.
Desde que resolvi trabalhar com o que amo, não me dou o direito de titubear, não há a opção de desistir, então eu sei que vai ter um jeito. Sei que não será fácil, como nunca foi, sei que não será uma solução mágica, porque ela nunca veio, mas vai dar, porque deu até aqui. Alguns dias acordo mais pessimista, porém nos meus 41 anos de existência me certifiquei de me cercar de gente apaixonada. Nos dias que acordo meio para baixo já aparece a Jacque (responsável por nossos projetos literários) com uma história nova para publicarmos, um dos professores com uma ideia nova, um dos alunos com um trabalho concluído, coisa linda, para apresentar. Quando se entra nesse ciclo de se fazer o que ama a roda gira, naturalmente ela gira. Apesar de toda a mudança de rotina, apesar desse novo mundo que se desenha, não vejo um fim, mas inúmeras novas possibilidades.
Tenho tido muitos sonhos estranhos, que não me permitem descansar durante à noite também. Mesmo em casa continuo em um ritmo desenfreado de produção e loucura. Não estou reclamando, estou compartilhando, porque tenho certeza que não sou a única nessa situação. Juro que tento ser good vibes, meditar e tal, mas nasci para o tormento. Não dou conta disso aí, não. Talvez eu infarte. Tenho um prazer danado na agitação.
Ando meio de saco cheio das telas, computador, celular, porém são elas que hoje concentram 90% do meu trabalho. Aí estou tentando enxergar as coisas com o olhar do meu amigo Ricardo Nolasco que diz que dá, que é divertido e que pode ser legal. Resolvi me entregar e vou começar a criar alguma arte que também possa compartilhar por elas.
Talvez você que está lendo esse texto tenha esperança de que eu diga que acredito numa solução para ganharmos dinheiro fazendo arte pela internet. Infelizmente não. Não achei essa solução nem fazendo presencialmente, nem dando aula, nem abrindo um Centro Cultural. O que descobri foram novas moedas e a, tão em voga no momento, "colaboração". Tocamos, e é no plural porque somos muitos, tudo isso até agora sem nenhum financiamento público. Tudo que construímos até aqui foi ralando muito e tentando oferecer algo verdadeiro e humano. E o que temos recebido de volta é humanidade. Alguns podem pensar que isso não sustenta, mas sustenta, sustenta mesmo. Paga conta e coloca comida na mesa. O suficiente para manter a dignidade e continuar criando e se doando.
Tudo que oferecemos é maravilhoso? Possivelmente, não. Nos desdobramos para que seja, mas nem sempre dá certo. Porém deixei de me preocupar há algum tempo com a perfeição. O que quero é existir, entregar e interagir. Deu errado?! Desculpa, tentaremos ser melhores na próxima vez.
Desse novo mundo eu quero um passo de cada vez, mais gente boa andando comigo e que a gente cresça enquanto o constrói. Escolhi a arte porque é onde se é mais gente, mesmo que alguns artistas se esqueçam as vezes. A arte não dá dinheiro, mas dá ego inflado, que juntando os balõeszinhos dá uma viagem divertidíssima.
A conclusão é que dá pra ser tão doente e produtivo em casa, quanto se é em qualquer outro lugar. Basta ter o café e o remédio para a pressão sempre a mão.
Tem alguma ideia de projeto?! :D
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