Fiquei pensando agora como seria se alguém inventasse um termômetro que, em vez da febre, medisse a tristeza.
Precisaríamos a princípio convencionar qual a temperatura a ser indicada como correta, a padrão, na qual o corpo fica em equilíbrio. Em se tratando de graus Celsius, a faixa está um pouco acima dos 36 graus, próximo dos 37.
Qual escala poderíamos usar para medir a tristeza? De zero a cem, de um a dez, cinco estrelinhas e um cálculo da mediana definida entre todos os votantes? Ou simplesmente um retorno do próprio corpo, quimicamente, em nanômetros cúbicos de serotonina. Uma devolutiva de quanta felicidade você consegue, por conta própria, produzir.
Mas não deve ser assim tão simples. Ainda é debate se a tristeza é algo tão óbvio, o decréscimo, a ausência, de um único e simples hormônio. Para além disso, sua medição seria confiável? Somos por demais complexos. Não que isso seja algo ruim, talvez pelo contrário.
Tenho para mim uma outra forma de calcular, irritantemente abstrata. Meço por uma música de fundo que ouço na minha vida: quando o volume está alto demais, febre; baixo demais, hipotermia. Vivo em constante sensação de febre, minha cabeça lateja, o corpo não responde, o coração parece que vai a qualquer momento falhar.
Não sei se usaríamos esse termômetro na axila, no ânus ou na boca. Ou se direto no coração… no cérebro(?). Temos mais um problema, como medir algo que não sabemos onde está? Bem, sabemos, mas não queremos, não podemos admitir, pois não tem a menor graça, que pode se tratar de um único e simples hormônio.
Não inventaram esse termômetro. A medição ainda fica a cargo, a critério e à convenção de cada um. Em todo caso, talvez seja melhor não saber. Ficar na incerteza é a possibilidade de estar sempre entre os 36 e os 37. A febre não está no sentir, está no confirmar.
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